sexta-feira, setembro 11, 2009

Jorge de Sena e asfixia política!!

Quem fala hoje em asfixia democrática provavelmente nunca a viveu no tempo do fascismo, são palavras de Mário Soares depois de ouvir Manuela Ferreira Leite falar em asfixia Democrática no nosso país. Jorge de Sena, poeta português, sentiu na pele o que é asfixia política do tempo do Salazarismo.
Terminou hoje um exílio de 50 anos para o poeta Jorge de Sena, cujos restos mortais foram trasladados hoje, pelas 10h00, da Basílica da Estrela para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Esta asfixia democrática, política ou o que lhe queiram chamar de que hoje se fala, nada mais é do que mera campanha eleitoralista dos fracos que recorrem a todos os meios para poder sobressair.

Ode à Mentira

Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?

Quem torturais, quem perseguis,

quem esmagais vilmente em ferros que inventais,

apenas sendo vosso gemeria as dores

que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas esquinas
das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,

esses e os outros, que, de olhar à escuta

e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso

o coração que apavorado em vós soluça

a raiva ansiosa de esmagar as pedras

dessa encosta abrupta que desceis.

Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.

Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?

Descereis, descereis sempre, descereis.

Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'

Nenhum comentário: