sábado, março 21, 2009

Poesia, hoje e sempre

Poema para os meus gatos




Perguntaram-me um dia destes
ao telefone
por que não escrevia
poesia (ao menos um poema)
sobre os meus gatos;
mas quem se interessaria
pelos meus gatos,
cuja única evidência
é serem meus (digamos assim)
e serem gatos
(coisa vasta, mas que acontece
a todos os da sua espécie)?
Este poderia
(talvez) ser um tema
(talvez até um tema nobre),
mas um tema não chega para um poema
nem sequer para um poema sobre;
porque é o poema o tema,
forma apenas.
Depois, os meus gatos
escapam de mais à poesia,
ou de menos, o que vai dar ao mesmo,
são muito longe
ou muito perto,
e o poema precisa do tempo certo
de onde possa, como o gato, dar o salto;
o poema que fizesse
faria deles gatos abstractos,
literários, gatos-palavras,
desprezível comércio de que não me orgulharia
(embora a eles tanto lhes desse).
Por fim, não existem «os meus gatos»,
existem uns tantos gatos-gatos,
um gato, outro gato, outro gato,
que por um expediente singular
(que, aliás, também absolutamente lhes desinteressa)
me é dado nomear e adjectivar,
isto é, ocultar,
tendo assim uns gatos em minha casa
e outros na minha cabeça.
Ora só os da cabeça alcançaria
(se alcançasse) o duvidoso processo da poesia.
Fiquei-me por isso por uma prosa,
e mesmo assim excessivamente corrida e judiciosa.

Manuel António Pina

sexta-feira, março 20, 2009

20 de Março



Quando vier a Primavera


Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.


A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?


Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for,
é que será o que é.

Alberto Caeiro

quinta-feira, março 19, 2009

Joseph Fritzl! Prisão prepetua!


Fritzl condenado a prisão perpétua


"O júri do Tribunal Penal de Sankt-Pölten, na Áustria, considerou Joseph Fritzl culpado e condenou-o a prisão perpétua, pelo sequestro, violação e escravatura da filha, durante 24 anos, e responsabilidade pela morte de um bebé nascido da relação incestuosa que manteve com a Elisabeth.

A decisão foi tomada por unanimidade pelos oito jurados do tribunal. O procurador Christiane Burkheiser pedira antes a pena máxima para Fritzl, pena perpétua e internamento psiquiátrico por duração indeterminada.

A criança que deu origem a este veredicto, fruto do período em que Elisabeth foi mantida como escrava sexual de Fritzl, morreu dois dias depois do seu nascimento, devido a problemas respiratórios, porque o pai recusou hospitalizá-lo."

Evitamos sempre as palavras para julgar um monstro destes, não por falta de vocabulário, mas sim porque seria indecoroso usa-lo aqui. Este é um daqueles homens que nunca deveria ter sido pai. É demasiado monstruoso para ser verdade. A morte, neste caso, seria pequena demais, deveria sim viver cada segundo, até o resto dos seus dias, sofrendo na pele aquilo que fez sofrer aos seus próprios filhos e netos. Que a sua alma nunca tenha paz.

Ser Pai!


Hoje é dia de todos os pais. E do meu também.

Dos homens que sendo pais o sabem sê-lo. Do carinho que partilham. Da plenitude de o ser.

Ser pai é saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amigo para sempre. É saber brincar e zangar-se.

É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser pai é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício, queda e jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói. Ser pai é ser bom sem ser fraco.

Um dia alguém perguntou a um pai se tinha um filho preferido ao que ele respondeu que sim. O meu filho preferido é o que está doente até que esteja são, o que tem fome até que esteja saciado, o que está em baixo, o que passa dificuldades enfim, o que mais precisa de mim até que eu o tenha ajudado.

O meu pai era assim. Bom pai, respeitado e amado. As lembranças, que vão ficando ao longo do caminho que vou percorrendo, continuam vivas em mim. Aqui e ali uma memória mais forte, mais sentida, mas sempre presente.

Um beijo para todos os pais

sábado, março 14, 2009

Porquê?

Depois de alguns tempo, duas semanas, em que a esperança renasceu em nós, em que a doença deu tréguas e pareceu abrandar, de repente tudo voltou ao princípio e os tempos tem sido muito difíceis, a maldita doença insiste em ser mais forte que os laços que o prendem à vida. Vida? Que qualidade de vida? Não sei responder.
Os dias passam iguais, negros de desespero, de revolta, de sofrimento. Ele carrega nos ombros a culpa de toda uma vida passada. Os bons e os maus momentos, os erros do passado, pecados mal resolvidos, calados, aventuras e desventura de outros tempos. Os momentos mais doces, os mais sofridos, os mais sentidos, desfazem-se na desfaçatez do mal que o consome. Desmoronam-se como castelos de areia. Porquê? Pergunta ele agora que a esperança parece perdida, e quando o desespero nos atormenta, eu já não sei responder. O silêncio inunda a casa. As paredes silenciam as palavras que já não dizemos. São cada vez mais os amargos momentos em que os dois nos fechamos. Calados. Pensamos no futuro. Qual futuro? Pergunta ele. Eu já não sei responder.
Vejo-o mais velho, curvam-se-lhe os ombros como se carregasse o peso do mundo sobre eles, está mais magro, mais acabado, mais desanimado. A anemia avança descontroladamente, já não fez Quimio, não pode fazer por enquanto. São semanas e semanas de desalento e de desânimo, estas, por nós vividas. Na esperança de que para a semana que vem as coisas estejam melhor. A importância de fazer ou não fazer quimio é agora uma parte muito importante na nossa vida. Cada dia que passa o círculo fecha-se mais e mais em redor dele. Em redor de mim. Em redor de nós. Sufoco. Sinto medo. Tudo é complicado, tudo é difícil. Coisas simples parecem de repente o cabo das tormentas. Havemos de dobrá-lo, digo-lhe eu. Tens a certeza? Não, eu não tenho a certeza.
Onde mora a esperança, a solidariedade, até a amizade? A doença e os problemas afastam as pessoas de nós. Sente-se um vazio de sentimentos. Os outros não se querem envolver e afastam-se, afastando-nos. Onde anda a alegria que todos os dias invadia a minha casa? E as conversas animadas à volta da mesa? O silêncio responde-me! Faz-me companhia e deixa-me cada vez mais só.
A música, essa amiga dos momentos amargos, ouve-se baixinho e embala-me nos seus acordes suaves. Eu não quero, diz-me a voz da Mariza. Eu também não quero, penso eu.
Envolvido no silêncio do quarto ele dorme. Dorme quase todo o dia. Ao menos assim não pensa. Não sofre.
Assim vão os nossos dias, à espera que as coisas mudem e ele melhore. Eu insisto, ralho, obrigo-o a comer, a beber, ele recusa, desiste. Baixa os braços, fecha os olhos. Eu persisto. Barafusto. Desespero e revolto-me contra esta sorte que nos calhou. Porquê? Eu já não sei responder.

Coisas de que se gosta

Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

E quando me vejo ao espelho
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir

Eu não quero!


sexta-feira, março 13, 2009

Culpado ou inocênte?


"Ele está a respirar, ele está a respirar." João Carlos Moreira, de 29 anos, não queria acreditar que se tinha esquecido do filho no carro durante três horas da manhã de ontem, na rua de Timor, em Aveiro. Para ele, o inanimado João Pedro, de nove meses, estava vivo – mas o pequeno bebé já tinha falecido, devido a desidratação.

Tal como noutro dia qualquer, João Moreira, programador informático, saiu de casa no seu Opel Corsa, com o filho na cadeira, no banco traseiro. O local de trabalho do homem de 29 anos fica a quatro metros da creche onde deveria ter deixado o bebé, mas o silêncio do adormecido João Pedro fez com que o pai se tivesse esquecido da criança no automóvel, das 09h30 até às 12h30, hora em que a temperatura atingiu os 22 graus.

O alerta foi dado por uma das sócias-gerentes do infantário. Catarina estranhou a falha do Joãozinho, bebé adorado pelas responsáveis da creche. 'Ele tinha ido a uma consulta recentemente, imaginei que estivesse atrasado novamente por motivo similar. Telefonei para casa e, como ninguém atendeu, liguei para a mãe', conta, desolada, Catarina, que ao saber que o carro do pai de João estava à porta saiu para a rua.

Ao lado, João Moreira, ao telefone com a esposa, saiu também da loja de informática para resgatar o seu filho. 'Catarina, eu juro que pensei que o tinha deixado convosco', confessou desesperado João Moreira à responsável da creche que encerrou durante o resto do dia. A rápida chegada do INEM ao local de nada adiantou. 'Foi grande o alvoroço, mas já não conseguiram evitar a tragédia', conta uma vizinha, Cidália, de 58 anos.

João Moreira, que tem ainda outro rebento, Inês, de quatro anos, foi levado pela PJ e é arguido por homicídio negligente do filho, que completaria dez meses na próxima quarta--feira, dia 18 de Março."

DESIDRATADO

Uma das causas prováveis para a morte do bebé pode ter sido a desidratação, como consequência da insolação, devido à exposição prolongada ao calor. Salvaguardando a questão de não conhecer o caso em concreto, o director da Maternidade Alfredo da Costa, Jorge Branco, explica ao CM a causa provável. 'Os bebés desidratam-se com facilidade, têm pouca resistência ao calor, perdem líquidos pela transpiração e há a morte súbita.'

'É PROVÁVEL QUE SEJA ACUSADO': Rogério Alves advogado!"

Como é possível um esquecimento destes?Como é possível um pai ter um acto de negligência deste tamanho? Como vai ele conseguir viver com a culpa? O que andamos nós a pensar para nos esquecermos dos próprios filhos? Quem passava no local não notou nada de especial? Não ouviu o choro do bebé? Estamos assim tão fechados em nós, embrenhados nos nossos próprios problemas, alheios a tudo o que nos rodeia? Foram três longas horas que este bebé esteve no carro, sentado na cadeirinha exposto a todos os que passavam e ninguém reparou nele?
Não consigo encontrar justificação nem perdão para o que aconteceu. Mas eu não queria estar na pele deste pai.

quinta-feira, março 12, 2009

Pinóquio aos 70 anos!

Quem não se lembra do Pinóquio? E agora renovado?

"Pinóquio", o boneco de madeira que se transformou em menino, está de parabéns. Para comemorar o 70º aniversário, os estúdios Walt Disney lançaram hoje a edição em DVD deste clássico de animação com imagens e sons do filme totalmente restaurados.

Baseado na história original do italiano Mario Collodi, livro publicado em 1881, "Pinóquio" foi produzido pelos estúdios Disney em 1940.

O clássico foi distinguido com o Oscar de Melhor Orquestração e Melhor Canção, por "When You Wish Upon a Star". A música é considerada uma das 100 melhores da história do cinema." Expresso


terça-feira, março 10, 2009

Para os momentos menos bons!

Para ouvir naqueles momentos que sabem a nada e nos sentimos perdidos

Espero que gostem