sexta-feira, janeiro 02, 2009

Assim vai a nossa Saúde!! Parte II

Continuação...

No dia seguinte, logo pela manhã e depois da opinião de vários médicos que o vinham a seguir, inclusivamente a cardiologista de Santa Maria, o que se pretendia era saber porque tinha sido mandado para O H. Pulido Valente e fazer a sua transferência imediata para S. Maria, sem perda de tempo. Ela e o filho foram imediatamente para o Hospital Pulido Valente, saber do estado de saúde do doente e também da dita transferência. O doente estava estabilizado. Em relação à transferência, a médica com que eles falaram e que estava encarregada do doente, era unânime com as outras opiniões já ouvidas, apesar do hospital Pulido Valente, neste momento ser uma extensão do Santa Maria, ter óptimas condições técnicas e humanas, o doente não pertencia ali, mas sim ao H. de Santa Maria. Iria fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para tratar do caso, como era sexta-feira, o doente ficaria ali e logo na segunda-feira de manhã seria transferido, ela própria se encarregaria do assunto, sem falta. Palavra dada, em que Ela e o filho acreditaram plenamente. Pareceu-lhes uma médica impecável, responsável, eficiente e competente, e acima de tudo, humana. Falou com eles, apelando à calma, à conformidade, com dor na voz, devida à gravidade do problema. A palavra certa, o gesto certo, o sentido da responsabilidade da palavra dada, apesar de ser bastante jovem. Confiaram! Acreditaram.

Para estas coisas o fim-de-semana é sempre complicadíssimo, comprido, sem utilidade nenhuma.

Segunda-feira finalmente chegou e antes de encetar a viagem para Lisboa e por motivo da maldita gripe que acabou por ter vindo com eles para complicar ainda mais as coisas, resolveram telefonar antes de sair de casa. À pergunta “Por favor, preciso falar com…” Resposta pronta na ponta da língua de quem estava encarregada de atender os telefones do Pulido Valente,

_ Essa médica está de férias.
Se o mundo tivesse caído naquele momento acho que Ela teria sentido menos efeito. À exclamaçã:
_ Ahhhhh não acredito! Isso não é possível! A médica comprometeu-se comigo em tratar de assunto urgente hoje sem falta, ou ela ou alguém, vai ter de me resolver o problema, nem que seja a Ministra! A voz irritada da telefonista respondeu,
_ Está a começar a faltar ao respeito a estes serviços, a senhora não está a falar com os médicos, mas sim com a Secretaria! (?)

Ela não entendeu essa importância dada à Secretaria e às pessoas que estava na Secretaria, em deferência aos médicos, daquele Hospital. Mas gostava de saber! Jura! Depois de voltar a telefonar e de esperar meia hora ao telefone, conseguiram falar com a tal Doutora, que afinal não estava de férias, não esteve e não tinha planos para as ter tão cedo, palavras da própria médica. Disse-lhes que queria falar com eles no dia seguinte, dia em que seria dado alta ao doente. Tentaram falar com os médicos que o seguiam em Santa Maria a resposta de quem atendeu o telefone, agora os de Santa Maria, é que o médico X estava de férias! Seria possível que esta ordem tivesse sido dada para todas as telefonistas, de todos os hospitais, por todos os médicos em véspera de Ano Novo?

No dia seguinte, logo pela manhã rumaram em direcção ao Pulido Valente novamente. Foram buscar o doente, Ele a única coisa que trazia, para além de uns exames que tinha feito, era um “livre trânsito” para poder circular entre hospitais sem ter de passar de uns para outro, como é obrigatório, esperemos que esse papel lhe poupe as 5/6 horas que teve de esperar sentado numa sala de tratamento de aerossóis. Absolutamente mais nada. Nem a marcação de uma consulta. Nem resultado da biopsia, nem tratamentos de rádio ou quimioterapia como alguém lhes tinha falado que era urgente fazer, visto a operação estar fora de questão neste caso específico, devido ao tamanho do tumor. Nada, somente o desespero e a angustia de ter de resolver tudo sozinhos, principalmente em casos gravíssimos como este. Eles, a doença, as dores, o desespero e os amigos que felizmente nunca lhes faltaram.

Depois das “Festas de Fim de Ano” nova ida ao hospital, desta vez ao IPO, uma consulta arranjada por cunha, Ele, Ela e o filho. A mesma opinião, o mesmo diagnóstico, só quimioterapia, nada de operação. Mas o melhor era mesmo em Santa Maria, o lugar mais indicado para estes casos de cancro. O serviço de Pneumologia deste hospital é o melhor do País, dizem-lhe! E era lá realmente que ele tinha o processo. Concordaram. Gostaram do médico, pareceu-lhe um bom profissional, pena é que não seria para eles. Pena? Pois… é o IPO, bom seria que nenhum deles precisasse dos seus serviços no futuro. Mas fica sempre esta sensação, quando encontramos ouro no meio de tanto lixo e o temos de lá o deixar.

Foram para Santa Maria, os três e o desespero de merda de país e de vida.

No 8º andar perguntaram pelo médico com quem precisavam falar, (o que tinha estado de férias na véspera de Ano Novo), estava lá e seriam imediatamente atendidos. Novas perguntas, novo inquérito, porque o primeiro médico que o tinha visto, há mais ou menos um mês e mandado fazer os exames, tinha ido de férias e já não voltava àquele serviço! A consulta decorreu num ambiente calmo, sereno e de grande profissionalismo. Ficariam à espera do resultado da biopsia para começar os tratamentos. Não pode haver operação. Tem de ser um tratamento de choque, agressivo. Mais uma semana e será chamado ou chamaria o doente.

Ela sentiu uma sensação de “deja vu”! E sentiu medo! Ele estava mais confiante, gostou deste médico, pareceu-lhe ser profissional e mais humano. Sentiu-se protegido e pela primeira vez pareceu-lhe que alguém se interessou verdadeiramente pelo seu estado grave de saúde. Ele quer viver mas com um mínimo de qualidade de vida para o poder fazer. Ela está mais desconfiada, acredita nos bons técnicos de saúde e tem encontrado alguns, sem dúvida que sim, no meio de tanta gente que não presta, gente que a única coisa que lhes interessa é receber o ordenado no fim do mês. Ela ainda acredita no sistema, de como ele é feito, com as intenções com que é planeado, mas depois, basta uma areia para encravar toda uma complicada engrenagem. A essa areia chama-se má vontade. Falta de humanidade e de civismo.

Continua…

7 comentários:

Carecaloira disse...

Por favor, acreditem!

Beijo grande
Marina

Flávia disse...

Francisca,

não fazia a mais pálida ideia da situação grave do Rui e lamento muito. Mandei-te uma sms na noite de Natal e mal podia eu saber que do outro lado estava uma amiga em situação aflitiva e sem cabeça, agredito eu, para pensar no Natal. Daqui vai um beijinho muito sentido e cheio de amizade para ti e para toda a família. Tenho de te telefonar para te dar uma força.

Flávia

To e Li disse...

Querida Franky;
Desde que lhe enviei o mail que não tive acesso ao pc, pois são as férias que em alguns casos são boas, mas noutros são catastróficas ( férias dos médicos)!
Só hoje me apercebi do que tem sido estes dias para si e para o seu marido e filho, peço que acreditem que algo de bom pode acontecer,a medicina está cada vez mais avançada e que ontem era impossível hoje é possível.
É pena o nosso sistema de saúde ser assim, essa falta de humanidade, de conforto e sensibilidade que existem nos serviços, todos nós infelizmente pouco ou muito já sentimos na pele o que é isso, mas esperamos sempre que alguma coisa mude.
Tenha fé e força para conseguir acompanhar todo este processo que se avizinha que não é fácil .
Continue a escrever e a passar para aqui tudo o que sente, seja raiva seja o que for desde que a liberte e a ajude.
Acreditar,acreditar,acreditar!!!
Beijinhos
Linda

Anônimo disse...

Franky

Nestas situações lamento não ter poderes superiores.
Para tratar os enfermos e para mostrar a Luz a toda essa gente que se julga impune.

Podem querer e até conseguir assobiar e olhar para o lado.
Mas a realidade acaba por os acordar.

Nessas ou noutras circunstâncias, essa gente que nada vale, essas instituições que nós alimentamos, nunca deveriam virar as costas a quem quer que fosse.
E eles, médicos, sabem muito bem quando estão a fazer o quê.

Um dia, Franky, um dia TODOS precisaremos de TODOS.
Não tem nada que saber.

Um beijinho grande, as melhoras possíveis do teu esposo e uma estrada bem aberta com um sinal a dizer que é sempre em frente.

Elvira Carvalho disse...

Vim trazer um abraço de amizade e solidariedade. Tenha fé amiga, e acredite.
Um abraço

Anônimo disse...

Ela, a Franky, só tem que acreditar.

Força tem a Franky.
E, embora existam coisas que quase nos fazem desfalecer, há sempre, sempre, uma esperança.

Um beijinho, Amiga

Franky disse...

Depois de uma semana relativamente calma, dedicada somente a fazer recuperar as forças e a energia despendida com assuntos que só nos ralam e não ajudam em nada, aqui estou disposta a dar volta ao mundo se for preciso.
Quero agradecer a TODOS o apoio que aqui tem deixado através das vossas mensagens.
Obrigada em meu nome e do meu marido, a luta só agora começou e não vamos deixar de acreditar, graças a vocês.