quinta-feira, julho 23, 2009

H. Santa Maria - PISO 8 PNEUMOLOGIA/ONCOLOGIA


Quando o meu marido adoeceu, tive consciência de toda a burocracia que envolve os Hospitais portugueses mais concretamente o 8 piso de Pneumologia e Oncologia do Hospital de Santa Maria, fui-me também aos poucos apercebendo de toda a problemática que envolve o Serviço Nacional de Saúde português. Fui deixando recados aqui no meu blogue, a quem de direito, tendo eu consciência da sua pequenez, escrevi em momentos de grande revolta e impotência para resolver problemas mínimos, bastando por vezes boa vontade e humanidade, como tantas vezes aqui sublinhei. As leis podem não ser perfeitas, mas existem para nos reger e regem e depois basta uma pequena areia para encravar toda uma engrenagem. Burocracia criada por gente que não sente o mínimo respeito pelo seu semelhante. Mesmo perante o desespero e a angústia de quem sofre uma doença terminal, ficam implacáveis e cumprem o que eles acham que é o seu dever cumprir.

Lembro-me por exemplo, de um internamente marcado para um dia determinado e nós sem conseguir-mos encontrar quem leva-se o Rui para o Hospital, devido ao seu estado grave, porque não tínhamos um papel que autorizasse uma ambulância para o levar, depois, já com esse papel na mão, os bombeiros não o levaram porque tinha de ter sido pedido esse transporte na véspera! Noutra altura, o meu filho e o meu marido na porta do H. de Santa Maria a precisar de uma cadeira de rodas, o Pedro sem poder deixar o carro ali perto, o segurança não deixava. Só teria a cadeira de rodas depois de deixar o bilhete de identidade e ficar em “lista de espera” até aparecer uma cadeira, há poucas, disseram e tem de haver controlo. Depois de conseguir a cadeira, passou o pai para dentro do hospital e deixou-o lá sozinho para poder ir arrumar o carro. Eu não pude ir nesse dia, mas morri de aflição e indignação a muitos quilómetros de distância. O Rui ficou nesse mesmo dia internado e nunca mais saiu do Hospital. Como numa outra altura, já em final de vida do Rui, porque faltavam 3 minutos para o meio-dia não podemos entrar e tivemos de sair daquela sessão! Recordo uma outra vez em que o Rui teve de ir às urgências e que lá esteve mais de 8 horas em observação e lhe foi dado alta às 4,30h da manhã, sem transporte para o trazer, o caro é comercial e só tem 2 lugares, e nós sem dinheiro para o táxi!! Dor, humilhação, indignação!

Visto agora a esta distância até nos parece impossível ter acontecido. Situações absurdas, que de tão ridículas dá por vezes vontade de rir, não fosse a gravidade da situação.

No entanto quero sublinhar que nos últimos dias não faltou nada ao Rui, desde os médicos aos enfermeiros assim como o pessoal auxiliar, foram incansável tentando minorar o seu sofrimento e a nossa dor. Estou convencida que se o Rui estivesse em casa não seria melhor tratado.

Esta gente está habituado a lidar com a morte, raro era o dia em que um doente ali internado não partia e eles continuavam a fazer o seu serviço muitas vezes com uma lágrima a bailar no seu olhar e um sorriso nos lábios para nos dar a nós, família, a força que tantas vezes vai falhando. Também nos doí a nós, não pensem, dizia-me uma enfermeira, no seu abraço apertado de condolências.

Seria injusta e não ficaria bem com a minha consciência se não agradece-se a estes profissionais, do 8 piso do serviço de Pneumologia/Oncologia, do Hospital de Santa Maria, competentes trabalhadores de saúde pública no seu esforço, empenho, profissionalismo e amor pelo próximo.

A enfermagem é uma profissão que integra a ciência e a arte no cuidado do ser humano, com a finalidade de promover, manter e restaurar a saúde. É considerada arte e ciência de pessoas que cuidam de outras”!

Bem ajam!

4 comentários:

Anônimo disse...

Franky

Dizes, melhor que ninguém, o que se passou. Porque viste tudo, ouviste tudo, sentiste tudo.
Sabemos que a burocracia, a tal areia que empena o sistema - neste caso o da Saúde - destrói o que já é complicado de tratar.
Por vezes, um pequeno gesto de boa vontade, alivia uma dor, dá-nos outro alento.

É evidente que lá dentro, dos hospitais, trabalham seres humanos e a coisa muda um pouco de figura.
Fazes muito bem em salientar, pela positiva, o trabalho, o profissionalismo e o amor pelo próximo, das gentes envolvidas numa especialidade incómoda.
Apesar de tudo também são seres humanos.

Não me alongo.
Continuo a desejar-te força para ultrapassar o momento que é de dor.

Até sempre.

sideny disse...

Ola

Só quem anda nos hospitais, é que se apercebe dessa burocracia.

Quando devia ser tudo mais facil torna-se tudo mais dificil, ou somos nós que nos apercebemos mais
num momento de afliçâo.

Eu que o diga.

Há bons profissionais , carinhosos e atenciosos, seja para o doente como para os seus familiares.

Eles também sâo humanos,e também sofrem quando veem sofrer.

desejo-lhe toda força e coragem para ultrapassar esta dor.
beijo
sideny

Anônimo disse...

Bom dia Franky

Infelizmente tanta verdade neste teu desabafo.
Sei perfeitamente do que fala, conheci essa angustia, essa afliação e tantas vezes esse desespero.
Ainda bem, que no decorrer deste caminho, encontramos por vezes aquele sorriso, aquele abraço, que nos faz acreditar, que mais alguem se preocupa, esse calor humano é essencial, para quem vive momentos assim, e que por vezes quem trabalha na saúde se esquece.

Beijos doces para si.

E a vida continua, com mais um empurram daqui e dali, tem que continuar.
Desejo que como mulher de "armas" que é, consiga fazer dos seus dias, o mais calmos e serenos possiveis, acompanhados de sorrisos.

Vanda

Elvira Carvalho disse...

Graças a Deus que não tive nenhum desses problemas com o meu pai. Foi sempre para o hospital de ambulância. Uma vez que não tinha a credencial para ir, me disseram que tinha que pagar 15€pelo transporte, mas que tinha 10 dias para apresentar a credencial e recuperar o dinheiro e assim foi. Levei a credencial e devolveram-me os 15€. Também sempre vi o meu pai tratado com carinho por toda a gente, excepto por uma auxiliar, que quando eu lhe pedia a arrastadeira, vinha com ela e ma metia nas mãos e se ia embora. A primeira vez que o fez, eu nunca tinha posto uma arrastadeira a ninguém e tive dificuldade. Felizmente que à 2ª ou 3ª vez que o fez a enfermeira viu e chamou-lhe a atenção, dizendo que aquilo era trabalho dela, e que se ela não gostava do trabalho, havia muita gente desempregada à espera dum emprego, e ela nunca mais o fez.
Agora o que me parece é que muita vez, o problema não é do sistema, mas de quem está à frente dos organismos.
Um abraço amiga