Há 60 anos!

Estas fotos estavam perdidas no tempo, encontrei-as bem no fundo do baú das recordações, têm mais ou menos 60 anos. Numa, estou eu ao colo da minha mãe e na outra estou com a minha irmã.
Que dizer deste tempo longínquo e carregado de nostalgia e saudade?

Era um dia chuvoso de Fevereiro, já havia uns tempos que não chovia, era assim como uma época de seca em pleno Inverno alentejano. O dia amanheceu triste, a chuva caía abençoando os campos sedentos de água.

A minha mãe sentiu, logo pela manhã, que a hora tinha chegado, e que hora difícil, contava ela! Foi um parto pélvico! (É chamado de parto pélvico, o parto realizado por via vaginal, como em um parto normal, porém realizado enquanto o bebé está sentado ou de pé, como foi o meu caso). Naquele tempo, qualquer parto que fugisse ao “normal” era muito complicado. Os filhos tinham-se em casa e os partos eram assistidos pelas parteiras, só era chamado o médico em casos muito complicados, foi o que aconteceu comigo, a parteira foi obrigada a chamar o médico da terra e com a ajuda dos dois o parto foi um sucesso. Era uma bebé feia, magrinha e chorona ou birrenta. Grandes perspectivas para o futuro!

“La niña trajo la lluvia”, diziam os Barranquenhos, entusiasmados com a boa sorte que eu lhes tinha trazido naquele dia 10 de Fevereiro de 1949!

Sempre gostei de chuva, continuo a amar o Alentejo e as suas gentes. Continuo a mesma irreverente de outros tempos, por vezes complicada, teimosa e sempre pronta para deitar uma lágrima por motivos que me fazem doer a alma. Há coisas que não mudam nunca.